Deixa que eu te ame sem palavras.
Encontro-te nos meus lábios imensa de
tudo o que não tenho. Um simples deslize entre o pouco e o nada. Acompanho-te
no suspiro fundo que me colas ao rosto. Enquanto encaixo devagar na curva dos
teus desejos. E toda uma prosa selvagem corre solta para ti. Sem
palavras. Com sede de tudo. No silêncio dos teus sentidos a segredar o toque
dos meus. Em todos os instantes em que me esperas. E toda me recebes. E me
bebes até à última gota de sol.
Digo-te:
Há flores que dependem de ti.
E tu guardas esta minha confissão com a chave da tua boca.
Enquanto esmagas as palavras com o teu olhar denso. Com impronunciáveis
emoções. E me guardas. E me demoras em ti. Com a inexatidão de um desejo
anunciado que ferve na alma. Com o meu nome a escorrer em cada veia. Com as
marcas invisíveis de um tempo sem medida.
Quando foi que as tuas mãos se cruzaram com as minhas e ficaram?
Quando foi que começaram a sorrir em silêncio?
Estão ainda húmidas as toalhas que nos secaram os corpos depois do Amor.
Estão ainda húmidos os lábios que acolheram o calor dos teus.
Porque todos os teus beijos são eternos.
E nunca morrem na minha boca.
Em nenhuma palavra.