Era domingo e como em todos voltava. Para a refeição. Para o degustar dos sabores da infância. Para te encontrar comigo. No tempo. Nos teus braços. Na tua ingenuidade genuína. No teu querer de mim da forma que só tu querias. Num pleno. No todo de um sorriso com os olhos a brilhar. Mesmo que com todas as perguntas e olhares exploratórios. Mesmo que com todas as observações. Visões de um olhar único. Só teu. Só possível de ti. Porque havia palavras que só tu as sabias dizer. Aos pares. Havia gestos que só tu os tinhas. Sem tempo. Eras matéria. Eras espírito. Eras todas as imagens do meu passado e lá, tu estavas em tudo. Em cada chegada a casa. Em cada queda. Em cada choro, mas também em cada alegria. Na tua forma. Que não era a minha. Nunca foi. Mas era isso que a fazia única. Tua. Apenas. E para mim.
Hoje, já não é domingo. Tu já não estás. Apenas as molduras que te fazem imagem. Não presença. Vestígios. Remanescências de ser. Em passado. Existência em segundo plano. Os móveis mudaram. Alguns. Os sons mudaram. Alguns. Os sabores mudaram. Todos.
E no entanto, volto sempre aqui como quem entra na casa primeira. No útero. No amor. Nesse amor primeiro. Desmesurado. Sem fronteiras. Impossível de explicar ou sequer de entender. Volto sempre aqui. Sempre. A este sítio, onde mesmo tu não estando, tu és. Sempre serás (pelo menos em mim). Neste sítio. Não noutro. Não quero outro. Quero-te aqui. Assim. Onde sempre volto. Para de novo, me aninhar em ti. Mãe.
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