Cheguei e já não estavas.
Faz tempo, muito tempo, que te foste embora durante a minha ausência.
Atrás de ti, ficou a tua sombra. Misturada com a penumbra do nosso quarto. Não te seguiu. Optou por ficar aqui. Junto com o teu silêncio. Junto com todas as palavras que não nos dissemos. Junto com todos os abraços que não nos demos. Com a pasta dos dentes. Gasta (como nós). Vazia e sem tampa. No lixo.
Agora, há o silêncio. Há as mãos. Os gestos. E há os passos nas escadas (que não são teus). Em direcção a esta casa (que já não é tua). E há aquela pausa. Aquele breve momento entre o chegar, o rodar a chave, e o abrir a porta. Que agora, nunca é a desta (já não) nossa casa.
Cá dentro, são longos os corredores. Muitas as portas. Sempre estiveram abertas. E tu, sempre circulaste livremente por todas elas. Entravas quando querias. Saías quando te apetecia. Voltavas quando precisavas. Sem hora marcada. Sem necessidade de motivo. Porque aqui, simplesmente: éramos.
São muitas. As portas. E já faz tempo, muito tempo, que te foste embora durante a minha ausência. Até hoje, não sei por que porta saíste. Fechaste-as todas.
E eu, não o sabendo, não sei por onde te arrancar de mim.
2 comentários:
a tua poesia é profunda...
qdo leio identifico me mesmo sem ter passado por tal situaçao
Obrigado lua perdida!
É muito bom saber como as nossas palavras chegam aos outros e o que lhes provoca.
Abraço
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