Por vezes começam assim as histórias mais simples.
O ângulo do sorriso. A brisa a balançar a ponta do cabelo. O olhar a tocar o corpo antes da mão. Os dedos que se tocam sobre a mesa. A magia do instante em que as bocas se aproximam para o primeiro beijo.Mas a nossa foi diferente.
Fomo-nos surgindo em palavras. Fizemo-las tempo. E espaços. Nelas existíamos. E como quem acaricía o sol, fomos fazendo delas calor. Alimento. E por vezes, na lonjura da tua voz, repetia-as baixinho. Para mim mesma. Para te sentir em mim. Na vibração que elas provocavam no meu peito.
E apenas muito mais tarde, num dia em que apenas o rumor dos meus dedos no teu cabelo era som. Que acontecíamos em espaços nos lábios. Que respirávamos com a violência de um querer urgente. Que a tua voz não tinha palavras enquanto repartíamos sofregamente o silêncio. Que emudeci. Quando ouvi pela primeira vez na tua voz. Em sussurro. Em chamamento. O meu nome.
Foi nesse momento. Em que o teu olhar estava fixo no meu. Que a tua voz o articulou. Que a tua boca o fez real em ti. Que ele passou a ser um nome com significado. Com peso. Completo. Real. Por em voz. Que eu me soube tua. Na palavra grande.
Depois disso, muitos sóis e muitas luas.
Os joelhos que se tocam por baixo dos lençóis. Os pés que se encontram numa intimidade de pele. Serena. Em carinho. Em desejo. Mas por mais vezes que eu vista o teu corpo. Que nele aconteça sempre em excesso. É na tua voz. Sempre na tua voz. Que melhor me encontro.
Porque em nenhum outro lugar, eu me sinto assim.
Inteira.
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