sábado, maio 13, 2023

ACORDAR

 Acordo com o teu nome vindo dos meus sonhos, enquanto na pele transpira a saudade do teu perfume, que a agitação da ausência do teu corpo nela me provoca. É breve o instante em que o reconheço. E a vida é enorme nesse momento. Porque assim são os meus sonhos. Pedaços de ti. Em essência. Nos quais me aconteces em absoluto. E curiosamente sempre em silêncio. Porque não me falas nos meus sonhos? Queria acordar sempre na tua voz, ao invés de imerso nessa matéria efervescente de que são feitos todos os silêncios.

Mas como se as palavras queimassem a boca por dentro, nos meus sonhos não me falas.  Apenas me olhas. Em profundo. Com esses olhos que me absorvem. E nos quais caibo por inteiro. Sem nada em excesso. Talvez apenas os lábios. Esses que se movem para articular nenhuma palavra. Só para os beijos que vou deixando. Em pingos. Nos caminhos da tua pele. Enquanto na minha desenhas sem querer, em gestos que te escorregam dos dedos, inacabados mapas invisíveis. Sem nunca me dizeres qual é o destino que eles servem.

Seguro-te então o rosto entre as minhas mãos. E nos lábios abres um sorriso do tamanho do medo que tenho de te perder, enquanto sinto que o dia começa a despontar. E como se caíssem as sílabas do final de todas as palavras, a imagem começa a perder-se. Os olhos abrem-se. E nesta hora em que as ruas estão desertas, e também lá fora o silêncio impera, é apenas o teu perfume aprisionado na minha roupa que me serve de ponte até ti.

Um novo dia tem início.
Os lençóis estão amarrotados.
E todo o (teu) silêncio é maior que o mundo.
E violência.
De nenhum poema.

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