sábado, setembro 02, 2023

IMENSIDÕES

Nunca quis a profundidade do espaço. Nem toda a imensidão de desconhecido que ele encerra. Com toda a sua beleza e possibilidades, ele é-me apenas excesso. E eu quero-o em mínimo. Em nada. Se ele representa a distância de ti, quero-o ínfimo. Inexistente. Porque todo o espaço é silêncio. E eu transbordo todos os teus. Quero as tuas palavras a serem casa para os meus olhos. O teu olhar as minhas estrelas. E que sejam as tuas curvas a definirem as minhas fronteiras.

Dir-te-ia que te amava ainda antes de te conhecer. Amava a ideia de ti. Aquela a que vieste dar corpo. Mostrando-me o quanto te pensava em pouco. Aterradoramente incompleto. Por não te conhecer. Por te pensar para além de mim. Quando a tua existência é tão profundamente a minha. E sem a tua, ela é tão escassa. É possível eu existir sem ti? Os nossos caminhos nem sempre foram comuns. E ainda assim, os nossos passos foram-se sincronizando para chegarem a hoje.

Esquece o céu. A Lua. As estrelas.
Vamos ver o mar.

No mar tudo se une. Todas as existências se partilham. E nas ondas temo-nos. Em marés. Como vagas em movimento. Ora suaves. Ora em força. Mas sempre em movimento. Como que levando-nos. Como que sendo-nos. Deixa-te elevar pelas ondas. Deixa que o teu corpo flutue. Que seja maré. E que os meus braços te sejam rocha. Te firmem. Como fio vermelho que liga o fim a todos os inícios. Como ponte que une margem nenhuma. Como desculpa para a vida.

Acordamos juntos?

Sem comentários: