Sabes
Pai, por vezes doem-me os dias.
É tremendo o peso que carrego sobre os ossos dos pés. E os dias doem. São pálpebras
de pedra que batem contra todos os espelhos. Racham. Esmagam. Pela dor, chego a
desejar o esquecimento. Deixar de ser eu frente a este mar imenso de nomes a que
outros chamam vida. Não ser nem memória.
Ser apenas silêncio. Ou olhar. Por cima do ardor.
Doem-me tanto os dias às vezes Pai.
São toda uma devastação. São as feridas de todos que me rasgam a pele. Tudo
sangra. Como espinhos numa garganta que canta. Canta a sua dor numa tentativa
parva de purga. Porque a dor não se purga. A dor não se expele ou sequer se
aniquila. A dor vive em nós. Em pequenas trevas. A dor somos nós. Em pequenas lâminas.
Doem-me tanto os dias Pai.
Na lembrança das coisas, vejo todas as despedidas. Todas as casas agora
sombriamente vazias. Todos os abraços dissolvidos. Leitos desfeitos. Palavras
caladas. Há frases inteiras para sempre gravadas no vento. E sinto. Tudo acaba.
Tudo morre com o seu nome. Como flores que bebem as jarras. Como raízes que
apodrecem a terra. Em silêncio.
Doem-me os dias Pai.
Numa dor que sou todo eu, ouço, vezes sem conta, o mesmo eco:
Porque continuo aqui?
Num "mundo de loucos", em que as relações interpessoais muitas vezes nos "passam ao lado", vamos, com base nas nossas vivências e alguma imaginação à mistura, fazer deste cantinho um centro de reflexão e de diversão.
sábado, setembro 16, 2023
DOEM OS DIAS
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