sábado, setembro 09, 2023

DUETO A SOLO

Caminho descalço sobre as palavras para não as ferir. Por entre o tempo que se derrama sobre as suas letras, por vezes, mora o medo. E como não sei onde fica o seu epicentro (fraturas expostas), de algumas guardo distância. Desconfortos de existência. Como se num carrossel as suas letras formem uma magnetização própria. Que me atrai em contínuo. Delas fujo. Não as uso. Em cobardia. Por não saber o que depois delas fica. Por não saber como ficas.

Há quem seja comum. Pouco acrescento. Mas não tu. Gosto de te ver chegar ao texto. Demorares-te nele. Ver os teus olhos navegarem pelas suas ondas. Os arqueios dos teus lábios a acompanhar a sua navegação. Os brilhos surgirem nos salpicos deixados pelos ventos amenos que te vão trespassando o peito. E depois da leitura, como quem beija na boca, olhares-me nos olhos. E com o seu silêncio dizeres-me que sou teu. Como quem fala Amor. E o diz numa canção.

Seremos sempre nós por entre as sílabas. Serás sempre embalo.
Condimento das frases. Música. Calor e lágrima. Corpo de texto.

Vagas de sentires.
Dueto a solo.

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