sábado, setembro 23, 2023

NÃO PARTAS AINDA

Onde vais? Deixando-me aqui sozinho a soletrar carinhos com a ponta dos dedos. É cedo ainda. E as palavras que semeei na tua pele ainda não ganharam raízes. Não têm força de subsistência. Por isso não partas. Ainda. Não me deixes sozinho. Sob todo o silêncio. Espera que a luz das letras forme o dia. Deixa que as frases nasçam. Espera uns minutos mais só para que se desenvolvam. E quem sabe, formem um texto. Que te seja ternura. Ou quase ternura. E que te leve a ficar. Umas letras mais. Um verso. Uma estrofe. Ou na loucura até todo um poema.

Não partas ainda. Há todo um tempo vida que parou quando chegaste. E eu não mais envelheci pelo lado de dentro. Onde não sou a minha idade pele. Sou a idade completa dos teus sonhos. E se te vais, todos eles esmurecem. Dissipam. E a minha idade torna-se matéria obsoleta. E eu não quero ser só passado. Sem linha de horizonte de futuro. Sem o atrevimento de querer seguir. E apenas ficar. E fazer de toda a luz cantos escuros. E deixar que as palavras apodreçam desarticuladas na minha boca. Indizíveis. Por falta de destinatário.

Tu sabes que é o teu respirar sobre as letras que as alimentam.
Tu sabes que são as correntes quentes da tua voz que as aquecem.
Tu sabes que é a claridade dos teus olhos que as revelam.

Por isso não partas. Ainda.
Deixa-me tentar uma vez mais, escrever o meu nome no avesso da tua pele.

Onde estás agora?


Sem comentários: